19 de mai. de 2008

Quando ela chora eu não sei se é dos olhos pra fora, não sei do que ri.



Sorrisos estampados me irritam. Não é um sorriso, parece uma cãibra. É como se estivessem zombando, sorrindo. Um quadro famoso que ilustra uma parede famosa de um museu famoso. O eterno sorriso da Monalisa, ridícula. Alguém disse (acho que foi Victor Hugo) que “rir de tudo é desespero”. Não rir pode ser (ou não) tristeza, mas rir de tudo é, com certeza, desespero. Kafka já falou disso, n’O Processo. K. (o protagonista, que luta contra o processo) tem um ajudante no banco que tem uma contração involuntária da boca, parece que ele está sempre sorrindo. Isso, obviamente, irrita muito ao K. Talvez a culpa, a timidez, causem toda essa irritação, pois parece que quem está rindo sem motivo só pode estar rindo da gente. O personagem não faz nada além de estar ali, sorrindo. Irritando. Kafka faz questão de explicar que K. sabe que é só uma contração INVOLUNTÁRIA, mas mesmo assim ele se irrita. A primeira menção a ele é “e Kaminer e seu sorriso insuportável, provocado por uma contração crônica dos músculos”.Em outra passagem, no mesmo capítulo, Kafka diz: “Kaminer alcançou-lhe o chapéu, e K. teve de dizer expressamente a si mesmo, conforme aliás também havia sido necessário mais de uma vez no banco, que o sorriso de Kaminer não era intencional, que ele nem sequer era capaz de rir intencionalmente”. Durante toda a narrativa, sempre que o Kaminer aparece, o autor cita a irritação que esse sorriso provoca. E eu concordo plenamente com ele. Pessoas inexplicavelmente sorridentes são insuportáveis.
Não que a felicidade alheia me incomode, longe disso. Adoro uma boa gargalhada, um sorriso satisfeito e até aquelas risadinhas de hiena doida são aceitáveis, quando não são felicidades exageradas também. A felicidade alheia me felicita, quando moderada. Felicidade demais é muito suspeita. Mas a felicidade comedida e explicável é linda! O problema é o sorriso estranho, que nunca sai do rosto. Eu sorrio muito, conheço gente que sorri muito, mas nunca supera o limite do suportável. Nunca é aquele sorriso estranho, de gente que não faz outra coisa senão sorrir. Eu gosto (apesar de me incomodar e ser sempre motivo de resmungos) da cara de desdém da Marianna, da cara de absoluto desprezo da Bréscia, da cara de profunda indignação da Ana Lívia, de todas as caras do Ramón e por aí vai. A Suellen tá sempre sorrindo, mas ela tem uma aura mais feliz. Não é o tal sorriso chato. E os outros, que também não são tão esquisitos. Não sei se conseguiria criar um vínculo de verdadeira amizade com alguém tão “sorrisos”. Não seria saudável. Prefiro as pessoas humanas, que riem, sorriem, xingam e fazem cara feia também. Vamos deixar os sorrisos pro Louvre, a Monalisa faz isso melhor que ninguém.

Oquei? Vamos sorrir com parcimônia, meus queridos.

3 comentários:

Mauro disse...

Aiai, olha a louca.
Parece que hoje to meio blasé...

Brescia Magalhães disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
vai-tomá-no-ouvido, garoto nojento.
vai, cai e quebra os dois dentes da frente logo... assim te darei os meus motivos mais que plausíveis pra sorrir por vc...
palhacinho.
daqui uns dias to aí. te acordando e rindo do nada e pro nada de novo! e vc vai me tolerar. senão nunca mais faço minha carinha de absoluto de desprezo pra vc...
coisinha chata da brescinha!

Anônimo disse...

Rir é o melhor remédio (eita clichê horrível), mas rir de algo, eu tinha uma amigo que tinha um problema na boca e parecia que estava rindo o tempo todo (sim, parecido como coringa), certa vez quase foi suspenso na escola quando o professor dava bronca na turma e ele parecia estar rindo do professor.