4 de ago. de 2008

Eu nunca guardei rebanhos, mas é como se os guardasse.




Não quero, como Coralina, cantar a beleza sutil do cerrado.
Tenho agonias demais pra um único nome. Não sou Fernando e não sou mais de uma Pessoa.
Não cantarei o vinho Byroniano ou o haxixe de Rimbaud.
Não chorarei a morte de Álvares, nem a decomposição de Augusto dos Anjos.
Não reclamarei a vida gauche de Drummond, não me chamo Raimundo e meu mundo não é vasto.
Não sou príncipe em meu pequeno mundo, não cativo ninguém.
A minha náusea não é da existência de Sartre.
A peste de Camus não me pegou.
Não cometi crime nem fui castigado, não sou idiota!
Não sou Maquiavélico e minhas orgias não são Sádicas.
Minha alma não é feminina e meu sofrimento não é o de Lispector. Minha hora não é de estrela.
Não sou grande, nem sequer mentecapto.
Não sou velho nem casmurro, e minha amante não tem olhos de ressaca.
Não conheci as veredas do grande sertão.
E, meu caro Watson, nada é elementar.
Não calcei sapatos de cristal, não comi maçãs envenenadas e meu final não foi feliz pra sempre.
Ninguém me contou mil e uma histórias.
Meus moinhos não são dragões e eu não sou cavaleiro. Nem solitário.
Não enfrentei o inferno nem o alcancei o paraíso de Dante.
Não matei meu pai, não desposei minha mãe, não enfrentei esfinges.
Minha história não é uma odisséia.
Minha histeria não é freudiana.
Não estou esperando Godot.
Não gosto de apanhar, não sou engraçadinha, menos ainda ordinária.
Minha vida privada não é uma comédia.
Não acordei uma barata, não enfrentei um processo nem procurei um castelo. Nunca escrevi cartas ao meu pai.
Não fiquei cego, não conheci Cristo nem fui duplicado. Minha morte não é intermitente.
Meus feriados não são de mim mesmo, minhas mortes têm nomes.
Não sou Lorena, não sou Capitu, não sou Vira Mundo, não sou Jesus Cristo e nem sou Madalena. Meu sobrenome não é K.
Meus morangos ainda não mofaram, minha idade ainda não é de razão.
Minha maçã não está no escuro.
A leveza do meu ser não é insustentável.
Minha solidão ainda não tem cem anos.
Não tenho espada, não tenho cavalo, não tenho escudo. Meu povo não é o das fadas. Meu Graal não é santo.

- Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?
- Deixa disso, camarada. Me dá um cigarro!

2 comentários:

Brescia Magalhães disse...

e sendo assim, vc é meu minhoca...
mesmo se envergonhando qndo eu digo isso na frente de seus amigos!!! heheee...
te amo tanto! q coisas!

Anônimo disse...

Kafka, Saramago, Conan Doyle, García Marques... Já posso escrever que sou seu fã em menos de vinte minutos.