23 de jun. de 2008
Ouça-me.
Sabe aquela segunda-feira dolorida, do meio pro fim do mês, quando você não tem mais nem UM real, nem pra almoçar, e seus cigarros estão contados? Sabe quando você trabalha DEZ horas seguidas, com sono e sem entender por que cargas d’água você não é a Paris Hilton? Sabe quando você está cambaleando de fome e ainda tem que enfrentar a rodoviária do Plano Piloto em pleno horário de pico? E, como se isso não bastasse, sabe quando você ainda tem que enfrentar um metrô lotado? E, pra desgraçar de vez, um velho ASQUEROSO escarra TRÊS vezes seguidas DO SEU LADO?! Então. Isso foi a minha segunda-feira. Que é pra começar bem a semana...
Mas sabe quando você tá andando até sua casa – claro que você mora longe da estação do metrô, mas vai de metrô, assim mesmo, porque é mais bonitinho –, variando de fome, e percebe que, mesmo com a vidinha miserável de proletariado-de-país-subdesenvolvido, que é terceiro, nem é segundo mundo, você vê que ainda está feliz?
É...
Aí você chega em casa, come mais do que deveria, fuma um cigarro (que tava fora da conta que você fez de manhã), e entra no msn só pra esperar alguém entrar... pra falar as mesmas besteiras que falou o dia inteiro, mas poder dormir com um sorrisinho besta estampado na cara... (aquele mesmo sorrisinho besta que me irrita).
“Já sabe o que eu sinto de cor
Ou vou ter que escrever nos muros
Gritar nas ruas
Mandar por num outdoor?
De tanto não poder dizer
Meus olhos deram de falar
Só falta você ouvir
Bem que você podia pintar na sala
Da minha tarde vazia
Meu bem”
Ah, o Ney sempre me entende...
18 de jun. de 2008
Pode rir. Hoje to meloso, doente e carente.
Tatuagem
Chico Buarque
Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é prá te dar coragem
Prá seguir viagem
Quando a noite vem...
E também prá me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...
Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...
E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...
Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...
Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...
Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...
2 de jun. de 2008
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
“Não há possibilidade
De viver com essa gente
E nem com nenhuma gente
Nem com nenhuma gente
A desconfiança te cercará
Como um escudo
Pinte o escaravelho de vermelho
E tinge os rumos da madrugada
E tinge os rumos da madrugada
Irão de longe as multidões suspirosas
Escutar o bezerro plangente”
Ah, realmente não há possibilidade (alguma) de viver com toda essa gente. Talvez com alguma gente, poucas. Pouquíssimas. O mundo gira, gira e me assusta. As pessoas mudam, as “tribos urbanas” se renovam, se reinventam, e me assustam. A forma como as pessoas amam, a forma como as pessoas demonstram seu amor e a forma como as pessoas tratam seu amor, me assustam. A falta de senso crítico, a necessidade de ser criticado. A falta de bom-senso, a necessidade de NÃO ser bom. Tudo isso tem me assustado deveras... E é então que vejo que não, não posso estar tão errado e ser a grande escória da sociedade. Não posso ter me enganado tanto. Não é uma roupa ridícula, de tão moderna, que te deixa melhor. Não será uma chegada escatológica, de tão moderna, que te dará a atenção que precisa. Não vai ser um escândalo pobre que vai garantir a “segurança” e a “estabilidade” do seu amor. Não vai ser toda a sua modernidade que vai garantir sua vida social. Podemos ser modernos, hypes, à frente do nosso tempo, podemos até chocar com toda a nossa modernidade, mas isso não vai garantir nossa saúde mental.
Enfim, e quem sou eu pra dizer isso? Eu, que já estive à frente do meu tempo. Que ousei com aquela roupa. Que cheguei de forma escatológica pra garantir alguns olhares. Eu, que nunca briguei por ninguém e, talvez por isso, hoje não tenho ninguém. Eu, que nunca tenho certeza do que é certo e do que é errado, que sempre posso mudar de opinião. Que sempre me contradigo. Que às vezes sinto falta de tudo isso, mesmo já tendo provado que estava errado. Eu que nem sei se concordo comigo mesmo!
"Eu vou lhes dizer agora o oposto do que eu disse antes, eu prefiro ser essa metamorfose ambulante."
De tão moderno que sou, citei Raul Seixas e Secos e Molhados num mesmo texto.
”Dentaduras duplas!
Inda não sou bem velho
Para merecer-vos...”
Pronto. Agora citei Drummond! Tanto rabugismo às vezes me faz crer que meu RG me engana.
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