3 de fev. de 2006

""As Brigas Que Perdi...""

Ela se levantou da cadeira, levou a mão ao rosto da outra, sem pudor ou piedade. Aquela, ofendida, agredida, revidou com violência. Um copo ao alcance da mão da primeira e o golpe foi certeiro. Na parede. Os cacos se misturam com os pés, que revelavam o sangue e a sujeira de um dia inteiro. O ódio pairava no ar, entre fios emaranhados de cabelos negros e loiros. Gritos ecoavam nas paredes frias, úmidas. Palavrões das piores espécies, nomes que machucam. Gritos que podem matar. Ou aleijar. Mãos voavam entres rangidos de dentes, entre os uivos de crueldade. As unhas saíram de dentro da epiderme. Os cabelos se separaram com dificuldade. Negros de um lado. Loiros de outro. Um racismo inconsciente. Outro copo ao alcance da mão. Mais cacos na parede. No chão, mais sangue. E mais ódio no ar. Olhos arregalados de crianças esquecidas no canto da sala. Choro. Lágrimas doloridas. Gritos desesperados. Medo infantil. A raiva ainda enche os pulmões ofegantes, e os rostos se escondem embaixo de fios revoltos. Loiros. Negros. Marrons. Vermelho no chão, nas mãos, no rosto assustado das crianças. A platéia. Então me veio a cena na cabeça: duas mulheres enlouquecidas, brigando, ensangüentadas, uivando e gritando dentro de uma gaiola pequena. Enquanto crianças sorridentes, e de olhinhos brilhantes, aplaudem e jogam doces e moedas. Enquanto o sangue espirra. Uma delas cai. Fraca. Pálida. E a outra bufa. Respira ódio. Ri sarcasticamente. Ri de si mesma. Ri da outra. Ri do mundo. E das crianças pervertidas que o habitam. E ri mais ainda quando se lembra daquele que morreu na cruz. Aquele que se matou por episódios como esse. Que se matou por puro masoquismo. Um grito me faz voltar a mim. Foi um longo devaneio. Elas estão separadas. Um lago de sangue, cacos, sujeira e raiva as separam. Uma delas chora. Aproveita o momento e chora toda a sua vida. Todo o sofrimento do mundo. Todo o sofrimento dos seus olhos. Foge desesperadamente, enquanto a outra ri. Não sei do que ela ri. Talvez ela tenha algum motivo. Talvez a vitória sobre a outra. Talvez a raiva ou a revolta. Não sei. Mas me pareceu muito familiar aquele sorriso. Mauro Filho [Baseado em fatos reais]

Um comentário:

Anônimo disse...

eu nao sei q q vc apronta que sempre se supera do meio pro fim...
pouco antes do meio, na verdade...