24 de jan. de 2006
.Azul Cor De Sangue.
A luz do sol bateu na janela, passou pelas cortinas, tocou seus olhos. De tanto insistir, acabou por acordá-lo. Ele espreguiçou-se, viu suas mãos, e estavam azuis. Merda! Será que estourou alguma caneta? Ou derramou tinta? Levantou e foi para o banheiro, olhou no espelho e seu rosto também estava azul. Assustou-se. Levantou a camisa e sua barriga também estava azul. Pegou o sabonete e ligou a torneira da pia. A água estava fria. Esfregou com força as mãos, mas a tinta não saía. Tirou a roupa e viu que estava todo azul. Todo. Não conseguia pensar. Não tinha lógica. Os lençóis estavam limpos. Brancos. Ele também estava branco à noite, quando foi se deitar.
Seria um sonho? Um sonho. Não. Se fosse um sonho ele saberia. Ou não. Ligou o chuveiro e deixou a água quente resolver o problema. Lavou bem o rosto. Poderia estar dormindo ainda. Tentou não pensar em nada. Fechou os olhos e sentiu a água quente. O coração que batia. O ar que entrava. O pênis que crescia. Abriu os olhos num sobressalto. O pênis. Ficou com medo de olhar. Sua única arma. Seu taco. Cacete. Caralho. Ele olhou e estava lá. Azul. Desesperou-se. Não estava dormindo. Menos ainda sonhando. Que loucura era aquela? O que tinha acontecido?
Pensou em chamar um médico. Mas o que dizer? “Doutor, estou com um problema: meu pau esta azul!” ridículo. Não poderia se expor desta forma. O que diriam? O que fariam? Seu trabalho. Sua faculdade. O sonho de estudar no exterior. Quem estudaria com alguém azul? Quem empregaria um homem azul? Quem aceitaria um homem azul?
Lembrou de sua mãe. Sua família. As pessoas com quem se relacionou. Pensou que ficaria famoso. Que seria estudado. Talvez a NASA se interessasse. Talvez não. Mesmo se ela se interessar, não seria um macaco enjaulado. Um rato azul de laboratório. Não.
Parou. Respirou. Pensou. E foi se olhar no espelho. Sou rosto era azul. Tanto quanto o céu. Ou ate mais. Não conseguia mais pensar. Saiu nu do banheiro, pegou uma vodka no frigobar e deu um trago no gargalo mesmo. Se a medicina não explica e Cristo não cura, o Álcool lava. Já no meio da garrafa (na verdade quase no fim) ele teve uma infeliz idéia. Pegou uma agulha e espetou o dedo. Surgiu, quase imperceptível, um tom de azul, visivelmente mais escuro. Cresceu numa espécie de bolha, se arredondou e caiu. Azul. O desespero tomou conta dele. Pegou uma faca. A mais afiada. Fez um corte no braço, e o sangue escorreu azul. E então fez outro. E mais outro. E outro. Azul. Azul. Sempre azul. E seu corpo sangrava. Sorveu os últimos dedos de vodka pura. Fez um ultimo corte e perdeu os sentidos.
Seu corpo foi encontrado duas semanas depois. Uma vizinha reclamou do cheiro de carniça. Quem viu o corpo disse que estava branco. Como a própria morte, branco. A palidez de meses sem um contato com o sol. Meses de uma vida noturna e insana. Anos. Os lençóis brancos estavam marrons, bem escuros. Cor de sangue vermelho coagulado e seco. De muitos dias...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário